29.3.12

Leitura compartilhada do encontro do dia 27.03.12


Felicidade clandestina 

                                                                         Clarice Lispector

Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria. Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como "data natalícia" e "saudade". Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia. Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria. Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu nao vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam. No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez. Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranqüilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do "dia seguinte"com ela ia se repetir com meu coração batendo. E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra. Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. As vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados. Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler! E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: "E você fica com o livro por quanto tempo quiser." Entendem? Valia mais do que me dar o livro: "pelo tempo que eu quisesse" é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer. Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo. Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada. As vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo. Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante. 

Fascículo 4: "Organização das Bibliotecas Escolares e Salas de Leitura"



MEC - UFPA - SEDUC
PROGRAMA DE FORMAÇÃO CONTINUADA DE
PROFESSORES DAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Data: 27/03/2012 - Horário: 7h às 11h e das 13h às 17h
Local: Auditório da Representação de Ensino
Tutoria: Alessandra Franco de Melo
Fascículo 4: Organização da biblioteca escolar e das salas de leitura.
Objetivo: • Refletir sobre a importância da Biblioteca escolar ou da sala de leitura, apontando elementos relacionados à sua organização e possibilidades de uso.
               Analisar diferentes modalidades de leitura e a fundamental mediação do(a) professor(a) ao longo desse processo.

PAUTA

         Escolha da redatora;


         Leitura compartilhada: “Felicidade clandestina” - Clarice Lispector;

         Atividade em grupo – leitura, debate e resumo da unidade 1;

         Apresentação dos grupos;
         Vídeo: “O uso das bibliotecas escolares”;
         Intervalo;
         Dinâmica: “Biscoito da sorte literário”;

         Reflexão: “Literatura Infantil” (slides);
         Estudo individual da unidade 2;
         Repasses;
         Avaliação do encontro.



“Dupla delícia: o livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado.” 

14.3.12

MENSAGEM DO ENCONTRO DO DIA 13/03/12

O LÁPIS

Um menino observava seu avô escrevendo em um caderno, e perguntou:
- Vovô, você está escrevendo algo sobre mim? O avô sorriu, e disse:
- Sim, estou escrevendo algo sobre você. Entretanto, mais importante do que as palavras que estou escrevendo, é este lápis que estou usando. Espero que você seja como ele, quando crescer.O menino olhou para o lápis, e não vendo nada de especial, intrigado, comentou:
- Mas este lápis é igual a todos os que já vi. O que ele tem de tão especial?
- Bem, depende do modo como você olha. Há cinco qualidades nele que, se você conseguir vivê-las, será uma pessoa de bem e em paz com o mundo – respondeu o avô.
- Primeira qualidade: Assim como o lápis, você pode fazer coisas grandiosas, mas nunca sozinho. Não se esqueça que existe uma “mão” que guia os seus "traçados",  e que sem ela o lápis não tem qualquer utilidade: a mão de Deus.
- Segunda qualidade: Assim como o lápis, de vez em quando você vai ter que parar o que está escrevendo para usar um “apontador”, é quando falta o grafite, ou quebra-se a ponta do lápis. Isso faz com que o lápis sofra um pouco, mas ao final, ele se torna mais afiado. Portanto, saiba suportar as adversidades da vida, porque elas farão de você uma pessoa mais forte e capaz.
- Terceira qualidade: Assim como o lápis, permita que se use borracha e apague o que está errado. Entenda que corrigir uma coisa que fizemos não é necessariamente ruim, mas algo importante para nos trazer de volta ao caminho certo.
- Quarta qualidade: Assim como no lápis, o que realmente importa não é a madeira, sua forma exterior, a embalagem que o guarda, mas o grafite que está dentro dele. Portanto, sempre cuide daquilo que acontece dentro de você. O seu caráter será sempre mais importante que a sua aparência.
- Finalmente, a quinta qualidade: Ele sempre deixa uma marca... Se você escrever com pressão e apagar gosseiramente, pode até rasgar a folha ... da mesma maneira que o lápis, tudo que você fizer na vida deixará traços e marcas na vida das pessoas. Portanto, procure " escrever com cuidado ", ser consciente de cada ação e se deixar marcas que sejam positivas, que tenham significado, que tenham conteúdo!             
        (Autor desconhecido)
            Professora Alessandra/2012

Introdução ao fascículo 4


                                  MEC – UFPA - SEDUC
PROGRAMA DE FORMAÇÃO CONTINUADA DE
PROFESSORES DAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
 
Data: 13/03/2012 - Horário: 7h às 11h e das 13h às 17h
Local: Auditório da Representação de Ensino
Tutoria: Alessandra Franco de Melo
Fascículo 4: Organização da biblioteca escolar e das salas de leitura.
Objetivo:   Discutir a relevância do Dicionário como aliado no dia-a-dia da sala de aula.

PAUTA  
       Escolha da redatora;
       Leitura compartilhada: “Ida e volta”- Juarez Machado;
       Avaliação do fascículo 3 no NTE;
       Entrega e apresentação dos relatórios do fascículo 3: Planejamento Semanal;
       Apresentação e explicação do fascículo 4;
       Dinâmica: “O lápis”;
       Intervalo;
       Dicas de Língua Portuguesa: mensagem “Reforma Ortográfica”;
       Estudo da unidade III;
       Tarefa para casa;
       Repasses;
       Avaliação do encontro.

A leitura de um bom livro é um diálogo incessante:
o livro fala e a alma responde.
       André Maurois

9.3.12

Estudo do fascículo 3 - 8º encontro


                                          
  
MEC – UFPA - SEDUC

PROGRAMA DE FORMAÇÃO CONTINUADA DE
PROFESSORES DAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Data: O6/03/2012 - Horário: 7h às 11h e das 13h às 17h
Local: Auditório da Representação de Ensino
Tutoria: Alessandra Franco de Melo
Fascículo 3: Organização do tempo pedagógico e o planejamento escolar.
Objetivo: • Apresentar o planejamento como documento que traduz a concepção dos professores a respeito de como ocorre o processo de ensino e de aprendizagem.
    • Possibilitar a compreensão do planejamento como um instrumento útil para orientar a prática pedagógica.

PAUTA
       Escolha da redatora do dia;

       Dinâmica: “Sorriso milionário”;
       Atividade reflexiva: “Lista de 1O bons motivos para se fazer um planejamento no início do ano”;
 
       Assistir ao programa de vídeo Planejar É preciso;
       Intervalo;
       Explicação sobre tipologia textual e gênero textual;
       Leitura reflexiva das pág. 22 à 3O;
       Atividade em grupo;
       Repasses;
       Avaliação do encontro.
“O planejamento é um instrumento indispensável para a ação pedagógica,já que, de outro modo, seria impossível orientar o processo até os propósitos perseguidos – e uma proposta educativa deixa de sê-lo se não tratar de tornar realidade certas finalidades previamente planejadas.”
Delia Lerner e Alicia Palácios